do amor ausente, 63 e 64

Paula, a enorme, que o segurava firme no pescoço e fazia-o frágil como nunca imaginara ser. Paula, a fraca, que a ele se entregava com raros gemidos e respiração forte, sufocando. Paula, a mais de uma vez determinada, que subia a serra cantando pneus, o atirava num quarto azul e distante e não lhe dava chance de defesa, fazendo-o gozar de formas não compreendidas até hoje. Era essa a mulher que, diante de M., preparava-se para, mais uma vez, satisfazê-lo e lançá-lo em desgraça.

Paula, um passeio bêbado pelas bordas do abismo, a iminência da catástrofe nas placas que pontuavam a estrada. Paula, quantas vezes mais teria que repetir aquele nome, espelho um tanto distorcido do que ele era e reflexo límpido do que viria a ser quando, finalmente, conseguisse tornar-se o que realmente é, promessa para sempre adiada.

ouvindo isso

Dead Man (Jim Jarmusch)

Indo para o fim da linha depois de ver que a paisagem se move e que, mesmo assim, continua paralizado, William Blake (Depp)  deixa pra trás os valores do homem urbano, aquele que se engana  e se limita ao que se baseia na lógica, e vai ao encontro do real conhecimento próprio dentro da natureza,  onde a morte tem, de fato, outro sentido.

Convivendo com Nobody (Gary Farmer), um pele vermelha que facilita a jornada física de Blake, mas, em contraponto, deixa-o seguir sozinho seu caminho de mudanças mentais, Blake é procurado por todos que estão interessados numa cada vez maior recompensa oferecida pelo homem que fora o motivo de sua viagem ao local onde o estopim de sua crise interior finalmente chega.

Uma fotografia p&b maravilhosa acompanha esse filme supostamente lento que conta com  o trabalho de Neil Young compondo uma trilha sonora das mais eficientes em termos de contribuição pro clima do longa ser mantido e para que o silêncio, tão bem cultivado durante toda a obra, seja válido.

Sem grandes explicações faladas ou concretas, Jim Jarmusch retrata de modo genial a mudança do homem diante do perigo, da fome, da sede, da falta de rumo, o que consistiu na nova visão da morte e da vida, das super-valorizações materiais dos norte-americanos, e da relação do homem com o resto da natureza, onde não há distinção de espécies, e sim um reino só de seres-vivos. Ali, talvez a morte de um animal fosse muitas vezes mais lamentada do que a morte de homens pobres mentalmente e empregnados por um cristianismo mais do que ditador.

Blake deixa de ser um homem morto pra começar a realmente viver, mesmo que pra isso a vida não lhe seja mais necessária.

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Sem grandes explicações faladas ou concretas, Jim Jarmusch retrata de modo genial a mudança do homem diante do perigo, da fome, da sede, da falta de rumo, o que consistiu na nova visão da morte e da vida, das super-valorizações materiais dos norte-americanos, e da relação do homem com o resto da natureza, onde não há distinção de espécies, e sim um reino só de seres-vivos. Ali, talvez a morte de um animal fosse muitas vezes mais lamentada do que a morte de homens pobres mentalmente e empregnados por um cristianismo mais do que ditador.

Blake deixa de ser um homem morto pra começar a realmente viver, mesmo que pra isso a vida não lhe seja mais necessária.

Onde vivem os Monstros (Spike Jonze)

Aqui estou desabafar um pouquinho do meu amor pelo  filme que mais me encantou nos últimos tempos. Where the Wild Things Are é pra mim, sem dúvida, um dos 5 melhores filmes de 2009. E digo isso coberta de certeza. Mesmo depois de ver Bastardos Inglórios (Tarantino), Um Homem Sério (Irmãos Coen), Whatever Works (Woody Allen) e outros, esse longa aqui ganhou um espaço especial no meu coração – gay.

Baseado num antigo livro infantil, o filme conta a história de um garoto (Max) bastante solitário que, ao ter um atrito bobo com sua mãe, faz uma daquelas birras que todo mundo já fez na infância e sai correndo pelo bairro até parar num terreno repleto de árvores, onde começa a se acalmar e faz uma grande viagem para uma ilha repleta de monstros bem peculiares. É interessante como é bem retratado a incessante necessidade da não solidão, o desejo por atenção, pela figura do pai, de um amigo, ou de ambos num mesmo ser. Percebendo o que incomoda Max é bem mais fácil compreender o que acontece na ilha e os seus próprios habitantes.

Não vou ficar aqui falando da minha interpretação de cada monstro da ilha porque não adianta fazer um apontamento exato. Ta tudo ali pra gente relativizar(???) haha. Digo, os conflitos e cada um dos personagens podem significar uma coisa diferente pra cada um que assistir, por isso ASSISTAM. O que a gente pode falar com maior certeza é que o diretor Spike Jonze foi realmente genial. O filme é tão sensível que me deixou emocionada durante cada segundo em que o vi. Cada segundo mesmo.

Talvez isso tenha acontecido porque eu me identifiquei demais com o Max. Acredite, eu me identifiquei mais com ele do que todos vocês se identificaram com o Tom de 500 dias com ela. Outra coisa que colabora demais pra essa obra-prima ser o propriamente dito é sua trilha sonora. Estou ouvindo-a sem parar desde que vi esse filme aqui, ou seja, já fazem pelo menos umas 2 semanas (a Giovanna ta até de prova, rss). Essa trilha da Karen O do yyys é extremamente calma e agitada, sei lá, dá umas intercaladas bem bruscas  que lembram aquele climão de infância sabe? Aqueles sentimentos que apareciam e sumiam do nada e que você esquecia quando sua mãe te dava sua sobremesa favorita. As partes que eu mais gosto são quando o Max grita. Toda criança adora gritar bem alto, mostrar que está ali, gritar pra todo mundo que é o rei dos monstros, que agora tem com quem brincar, com quem conversar, com quem brigar, que tem, enfim, alguém que conquistou por si próprio.

E o Max Records é a coisa mais linda que apareceu na telona de 2009 heim gente, falae s2

No busão com Arctic

No ônibus, quebrando as regras estabelecidas por mim mesmo de não ouvir música mais alto que no 24, estava eu sentada, debilitando irreverssivelmente meus tímpanos com arctic monkeys no 32. Mas vamos ao assunto: Whatever People Say I Am, That’s What I’m Not,  segundo melhor álbum da primeira década do século XXI (o primeiro lugar é ocupado por  Is This It –The Strokes, mas isso discutiremos em outro momento).  Vou falar só das minhas músicas preferidas porque não tenho saco pra analisar o cd todo, e também porque sou bastante leiga tratando-se de música profundamente.

From the Ritz to the Rubble – o alex começa a falar, e o instrumental, que entra depois dessa introdução seca se adequa ao ritmo do alex, e não o vocal que se adequa ao instrumental. Isso pode ser simples, mas pra mim é a maior sacada da música. Dá um tom de desleixo que me arrepia. A letra começa a narrar a história de um cara que sai à noite e é barrado por um segurança. Mesclando os pensamentos desse personagem com os a própria narrativa, a música cria uma tensão condizente com a situação retratada na letra, tensão que consegue ser atingida justamente através do efeito que eu já descrevi, o que se mantém durante toda a música. Minha preferida de todos os álbuns.

When the Sun Goes Down – conhecida como scummy por alguns, é outra música do arctic que tem uma introdução linda, calma, e que também tem relação direta com o que é dito na letra. Descrevendo uma garota inacessível, que “não dá recibo”, e um cara “imprestável” que, provavelmente não tem a mínima chance com a primeira. Mas logo que essa introdução acaba e a bateria incrível do Matthew Helders  entra em ação, o quadro da história muda, e esse garoto supostamente impotente começa a planejar, mudar e até “sentimos algo no estômago”. Assim, como they said it changes when the sun goes down,   she’s in the stance ready to get picked up  por um plano sujo. Essa daqui me lembra meu primeiro ano do colégio HAHA.

A Certain Romance – essa é indiscutivelmente a melhor música deles, não que seja minha favorita, mas é a melhor. E novamente os caras arregaçam com uma introdução simplesmente genial. A bateria inicia de modo rápido e raivoso, e logo em seguida a guitarra e os pratos acrescentam e fortificam mais esse clima de desespero criado. Do nada essa tensão é completamente desconstruído pela súbita ausencia da bateria e por uma guitarra romantica, que, pra mim, remete ao sentimento pós raiva, que é o da tristeza, ou seja, os caras conseguiram transpor os sentimentos de uma pessoa em crise raivosa numa música. Logo em seguida  certa estabilidade é alcançada e o alexcomeça a cantar e a interpretar  um eu-lírico que diz não existir mais romance entre dois dos seus amigos, que o cara age como um idiota e que você deveria ir lá e dizer pra eles que ali não existe amor. Mas eles não vão ouvir “because their minds are made up”. Aí dá pra gente sacar que essa crise raivosa transposta na introdução está sendo sofrida pelo eu-lírico, que, por algum motivo, não quer o romance alheio. Essa música aqui já arrancou de mim muitas lágrimas. É daquelas que quando estamos desestabilizados emocionalmente nos afoga ainda mais, arruína. Por isso que eu gosto é do estrago.

Mardy Bum – ok, eu admito, sou apaixonada por essas introduções emocionantes do arctic, todas as músicas que tem uma mais requintada eu me derreto. Essa é outra. Mas gosto dela bastante pela letra, que não sei porquê, talvez eu seja meio mardy bum rs. Aqui é retratado o desespero de um cara que mantém um relacionamento com uma garota mimadinha, que fica exigindo muito, irritando-se fácil, mas que, apesar de tudo, é uma graçinha e em alguns momentos mais gays, fazendo brincadeiras e promovendo abraços na cozinha. É a mais simples e a mais fofa s2.