Indo para o fim da linha depois de ver que a paisagem se move e que, mesmo assim, continua paralizado, William Blake (Depp) deixa pra trás os valores do homem urbano, aquele que se engana e se limita ao que se baseia na lógica, e vai ao encontro do real conhecimento próprio dentro da natureza, onde a morte tem, de fato, outro sentido.
Convivendo com Nobody (Gary Farmer), um pele vermelha que facilita a jornada física de Blake, mas, em contraponto, deixa-o seguir sozinho seu caminho de mudanças mentais, Blake é procurado por todos que estão interessados numa cada vez maior recompensa oferecida pelo homem que fora o motivo de sua viagem ao local onde o estopim de sua crise interior finalmente chega.
Uma fotografia p&b maravilhosa acompanha esse filme supostamente lento que conta com o trabalho de Neil Young compondo uma trilha sonora das mais eficientes em termos de contribuição pro clima do longa ser mantido e para que o silêncio, tão bem cultivado durante toda a obra, seja válido.
Sem grandes explicações faladas ou concretas, Jim Jarmusch retrata de modo genial a mudança do homem diante do perigo, da fome, da sede, da falta de rumo, o que consistiu na nova visão da morte e da vida, das super-valorizações materiais dos norte-americanos, e da relação do homem com o resto da natureza, onde não há distinção de espécies, e sim um reino só de seres-vivos. Ali, talvez a morte de um animal fosse muitas vezes mais lamentada do que a morte de homens pobres mentalmente e empregnados por um cristianismo mais do que ditador.
Blake deixa de ser um homem morto pra começar a realmente viver, mesmo que pra isso a vida não lhe seja mais necessária.